(57)

Eu tenho pressa
Pressa de sentir
De beijar
De amar
De falar
Tocar
Envolver
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Fazer pensar
Fazer sentir
Fazer mudar
Fazer
A vida não é tão curta
Que não possa esperar
Mas é que eu sinto tanto
Que o ser transborda
E inunda tudo de intensidade
De pressa
A água do sentir corre rápido
A correnteza sai carregando tudo o que vê
E quem prende correnteza?
Já viram por aí mulher represa?
Tô presa!
Que sufoco!
Precisa sair
Precisa correr
E corre
Porque eu tenho pressa
Não dá pra conter

(56)

Se afetar de afeto
Nunca será um erro
Errado não é sentir
Sentir é lindo
Sentir é ação
É movimento
Admiração

Um sentimento bem sentido
Alegra o coração

Mas nem sempre o sentimento cabe
Às vezes ele é grande demais pro momento
Pesado demais pro ombro
Demais demais pra alguém

Nunca é errado sentir
Mas é sempre certo saber o que fazer com isso
Sem despejar no outro a responsabilidade de lidar com algo que não pediu

Se afetar e demonstrar afeto
Nunca é demais quando se é com respeito

As coisas são o que são
O afeto é o que é

É importante deixar ser.

(55)

Se eu escolhi estar nesse lugar insalubre que me encontro hoje
Que é estar apaixonada por uma ilusão
Tentando caber num espaço onde não entro, muito menos fui convidada
Eu posso também escolher sair dele, na mesma velocidade em que entrei
Apesar de agora possuir o peso extra de um sentimento

(54)

Os humanos se julgam inteligentes mas acreditam em qualquer coisa
Se auto intitulam a raça superior mas são incapazes de diferenciar fé de realidade
São tão bons no que fazem que criam diferenças de valor dentro da própria espécie

Os humanos precisam ser estudados, isso sim
É necessário entender como é possível serem inteligentes, possuírem raciocínio lógico e ainda assim fazerem mau uso da própria capacidade de pensar

(53)

O que é o relacionar-se, né?
O que é isso de amar o outro, amar o próximo, amar a si?
Esse exercício de se encantar por cada detalhe, essa coisa de não saber o que esperar e de não poder cobrar.
Quando saber que não é mais? Quando saber que acabou?
E pra começar? O que é preciso?
O que configura o rótulo? O que diferencia os rótulos?
Por que juntar se já tá junto?
Entendem?
E o que que é isso que depois separa e não existe mais?

São tantas perguntas…

(52)

Nem tudo o que há
Sempre houve
E para sempre haverá

Achei que tudo o que havia
Assim era
E para sempre assim seria

Mas hoje sou
O que amanhã não ouso ser
E que ontem não imaginei que seria

A vida como ela é
Não quer dizer que, por regra
Sempre será

Acostumar-se com algo não faz da vida menos inconstante

(51)

As pessoas não sabem sentir.
Digo isso por mim
Muitas são as vezes em que preciso de uma ajuda amiga para dizer: “deixa vir”
Pois vivo nesse sufoco do não respirar
Na intenção de controlar o incontrolável
No máximo adio o inadiável
E dá-lhe “RESPIRA!”

As pessoas definitivamente não sabem sentir
E não sabem lidar com o sentimento alheio também
Deve doer, incomodar, arder os olhos
Quando é quase palpável a vulnerabilidade de quem sente
É espelho e é arma
Você escolhe se vê teu reflexo ou mata mais um pouquinho essa vontade incessante de ser gente sensível

Não ensina na escola, né?
É isso!
A gente cresce achando que para tudo há cálculo, história, explicação e semântica
Aí vem esse danado desse sentimento
Que tropeça na mesa, derruba cadeira, cai na piscina, faz estrago
E a gente que acha ele estrangeiro e não fala sua língua
Permanece no eterno estado de não compreensão do que vem de dentro
Do que já é nosso

(50)

Só podemos transmitir ao outro
Aquilo que reconhecemos em nós
Aquilo que fortalecemos com a força do tempo

Não te posso ofertar o meu amor
Se por mim não sou amada
Jamais poderia dar-te o meu furor
Se enxergo a mim como criança
Que dirá eu pedir de ti uma aliança
Se vivo sempre enlamaçada de insegurança

Mas o tempo há de virar
O vento há de mudar
E a ti poderei dar a opção de ir ou de ficar
Pois poderá ver em mim
A essência do que há

(49)

Não entendo em entrelinhas
Nem em tuas linhas
Eu preciso que o nó desfaça
E em nós refaça o caminho das palavras
Tudo o que for claro eu quero
O que for dúvida, espero
E o que não for, dispenso
Mas gostaria de saber
Se é, de fato, um erro
Um acerto
Ou um “não sei”
Se é
Se tem
Se vinga e dá liga
Se não der, tudo bem também
Na verdade, nada de bem
Mas é o que tem

Eu só preciso que fale